Ficcionalização do mundo: uma viagem no informe


Abstract


No romance Avalovara (1973), de Osman Lins (1924-1978), lê-se que um mapa para ser exato deveria ter as dimensões do país representado e então já não serviria para nada. Na medida em que Avalovara constitui alegoria do ato de escrever um romance, mapa assume aqui caráter muito particular. Um mapa (como um romance) de modo algum é idêntico ao que representa, motivo pelo qual se utiliza de sistema semiótico complexo. Zumthor afirma que a carta – instrumento de referência e de mensagem – possui uma lógica própria e implica técnicas de criação que trazem a marca da personalidade do autor. Além disso, passa por procedimento de esquematização e de simbolização que atesta, por um lado, seu aspecto informativo e, por outro, a torna – em certo sentido – uma obra ficcional, pois ainda que não venha a ser lida como uma página escrita o é, termina por exigir de quem a examina um tipo particular de leitura e de interpretação. O narrador do romance nos lembra que só existem cidades sonhadas porque existem cidades verdadeiras, sendo estas que dão consistência às que só existem no nome e no desenho. As cidades ficcionalizadas ou ligadas a um espaço irreal não apresentam, segundo ele, a consistência da prancheta nem do nanquim com que trabalha o cartógrafo: nascem precisamente com o desenho e assumem realidade na folha em branco. "Elaborar um mapa de cidades ou de continentes imaginários, com seu relevo e seu contorno, assemelha-se, portanto, a uma viagem no informe". Suas palavras referem-se à escrita, naturalmente. Assim, levando em conta aspectos da construção desse romance, bem como leituras teóricas sobre os conceitos de espaço e de ficcionalidade, este trabalho pretende refletir sobre uma das ideias que regem Avalovara: a de que a fatura de um romance se assemelha ao trabalho de um cartógrafo.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p2275

Keywords: Avalovara; Osman Lins; Ficcionalidade; Representação; Espaço Literário

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